2 de novembro de 2013

De: Rafael, o Hipócrita

Olha... ah, Ana Sofia. Não gosto nada de ti. Acho-te menos bonita, inteligente e engraçada do que eu, como é óbvio, mas não te suporto mesmo, porque... não sei, só não suporto. Aliás, detesto qualquer pessoa que não me ache perfeito e que não me considere o seu ídolo, principalmente se ambos soubermos que, no fundo, o sujeito em causa é melhor do que eu, como é o caso.
O parágrafo anterior parece contraditório, não é? Sim, tanto parece como é mesmo.Isso, uma vez que todo eu sou o  acumular de situações à partida incompatíveis, como já deves ter reparado.
Vejamos:

  • Sou um autêntico cromo. (Ainda te lembras dos meus óculos de armação em massa azul e do meu aparelho dentário às corzinhas, certo?) No entanto, fumo como se não houvesse amanhã, da mesma forma que tenho outras atitudes de rebeldia, já que a minha auto-estima necessita de níveis de popularidade acima de certos valores, caso contrário, há risco de colapso de todo o meu ser, que é como quem diz, da minha infinita arrogância. 
  • Sou burro, mas como me farto de estudar, suborno os professores e ainda copio durante os testes, consigo notas excelentes. Deus me livre, se nem assim era!
  • Sou feio com'ó caraças! Contudo, sendo que amor próprio não me falta, - ok, isto é relativo, mas esta reflexão exige uma capacidade de pensamento que eu não possuo, avancemos - farto-me de falar das minhas conquistas do sexo feminino (das outras não se fala, está claro), nomeadamente em noites quentes, ambiente arenoso e forte odor a álcool, nem que estas aconteçam em sonhos, apenas e só.
Bem, chega de falar de mim. Ahahah! Achavas que era a sério? Impossível, dado o meu nível de egocentrismo. Contudo, não são os meus defeitos que estou aqui para acusar.
Tu irritas-me.Irritas-me profundamente e as razões deste sentimento são as seguintes:
a) Já tive uma paixoneta por ti, em tempos de menor índice de estupidez (e popularidade), que mantive em segredo, por te achar demasiado perfeita para mim. Ou imperfeita, que é quase a mesma coisa.
b) Não te percebo. Calada, séria, aparentemente parva, na verdade bem lúcida. Não perceber alguma coisa chateia-me.
c) Não gostas de mim, o que, mais uma vez, é incompreensível.
d) Gostava de ser como tu. Inveja, portanto. Tens valores, cultura, não vives unicamente para estudar e ainda pareces ignorar completamente o que pensam ou vão pensar de ti. Isto, sim, é o mais puro sentimento de cobiça!
Já deves ter percebido o que te queria dizer: saber que existes provoca-me o desconforto que senti na primeira vez que deixei que..., que dei o... Bem, não importa!
O que interessa é que me irritas. Vê lá se desapareces, ou faz-me desaparecer, é como quiseres.

O teu mais estúpido remetente,
Rafael, o Hipócrita

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